sábado, 23 de outubro de 2010

Compartilhando Histórias...

Essa história me chegou as mãos através da sua autora a jornalista e mãe Betânia Monteiro, uma singela e emocionante declaração de amor...Boa Leitura...

Cada casa é um caso

– Mãe, que dia é hoje? – pergunta Brunna, ainda sob o cortinado.

– O da casa da vovó.

– O das bonecas grandes, da televisão, dos desenhos animados, do feijão gostoso e da pracinha... – completa a menina. E se vai.

Depois da escola, na casa da vovó, Brunna se diverte até chegarem juntos o sono e o sonho. A mesma pergunta desenlaça o dia.

– Mas que dia é hoje, vó?

– Quarta, Brunninha.

– Quarta da casa de quem?

– Quarta do papai.

– Ah... das mordidinhas nos meus pés, das coceguinhas no pescoço e também da Educação Física na escola! – lembra animada.

Na casa do pai, depois da escola, Brunna se despede do dia recebendo beijinhos e afagos. De olhos fechados, brinca de estar em todos os lugares, até que o sono chega e a leva para viver os sonhos. Ele também, o sono, uma hora se despede:

– Até a próxima noite, ou quem sabe até depois do almoço... – e some.

– Mas não sei em que lugar eu vou estar! – responde Brunna, já muito acordada para quem quer falar ao sono.

A menina, ainda assustada, olha para os lados, tentando reconhecer o quarto.

– O som da manhã é sempre igual aqui com o papai – pensa. E sorri. – Acho que hoje é o dia da casa da mamãe, não é, papai?

– Sim, Brunninha, e também de abraços apertados, joguinhos, e de muitas histórias, responde o pai aproximando-se do quarto.

– Sim, é sim! E é também o dia da fruta lá na escola!

Depois do almoço na casa da mamãe, ainda na cadeira da cozinha, sente o sono chegar. Ele pega em suas mãos e a leva para brincar.

– Você me achou! – fala, com surpresa.

E o sono explica:

– Mas vamos brincar só um pouco, para não gastarmos o tempo da noite.

– Sono, responda-me. Como você pode me encontrar? Estou sempre numa cama diferente, e às vezes numa cadeira. Minhas camisolas nem se parecem. Como você sabe que eu sou eu?

O sono fica leve e responde:

– Reconheço você em qualquer lugar. Casas, camas, brinquedos, companhias diferentes. Isto é o que menos importa. Quando os seus olhos curiosos ficam distantes, pesados, escapa um sorrisinho cansado... Aí eu digo, “Brunna, vamos brincar!”

As últimas palavras do sono despertam Brunna, não mais na cadeira. Na cama, em seu quarto. Olha em volta, vê uma porção de livros e histórias diferentes.

– Cada livro tem um conto, cada casa tem um canto – fala Brunna, brincando com as palavras.

A mãe, que vinha chegando, completa:

– Cada menina tem um encanto, não importa o lugar.